Poltrona Abrachi - Lattoog | Lider

LATTOOG – Olhar do Design

O NBD teve o prazer de conversar com o designer Leo Lattavo, da dupla de designers da LATTOOG, e conhecer mais da história do design nacional que ganhou as fronteiras do mundo






Como acontece o processo de criação das peças da Lattoog?
O que inspira vocês?

Léo: Qualquer coisa a nossa volta pode nos inspirar. O processo de criação é contínuo em nossas vidas e acontece naturalmente. Criamos diariamente há mais de vinte anos. Andamos sempre com cadernos de croquis, anotando novas ideias que eventualmente se transformam em móveis, ou se misturarão a outras ideias..... É claro que às vezes podemos direcionar o foco para certas fontes inspiradoras – Procuramos evitar nos inspirar em outros móveis, justamente para fugir de resultados mais óbvios e já explorados.

 

Todas as criações da marca são feitas a 4  mãos ou o processo criativo pode acontecer individualmente?

 

Léo: A criação de um móvel pode se iniciar de diversas maneiras, desde um croqui, ou uma experiência com um pedaço de madeira, ou um briefing ou um bate-papo informal com um taça de vinha nas mãos…. Mas, independentemente disso, todas as peças passam por uma discussão minuciosa entre nós antes de entraram em prototipagem ou serem apresentadas a um cliente (fabricante). Às vezes esse processo leva vários anos desde seus primeiros esboços até o seu lançamento.

 

 Na colaboração criativa, qual o ponto mais importante da parceria? Qual característica de personalidade identificam como essencial para manter a sinergia na criação?

 

Léo: No nosso caso, nossa parceria sempre foi muito pautada pela forte amizade e amor às artes, além de confiança mútua e sinceridade na hora de demonstrar uma opinião e ouvir a do outro também (a parte mais difícil). Temos um norte, objetivos claros do que queremos construir como conjunto de obra, então tendo isso em vista, as conclusões ficam mais fáceis.

O que realmente buscamos é que nossas peças tragam narrativas conceituais-culturais que independam de suas morfologias. Em outras palavras, significado para nós é mais importante do que forma. Esse é um atributo que intitulamos há alguns anos atrás de “Quarta Dimensão do Objeto”

 
Poltrona Reeg - Lattoog
Nesta foto, detalhe da Poltrona Abrachi e cadeira Tira - Lattoog para Lider Interiores

Como surgiu a inspiração para a Poltrona Temes, presente na Arquivo Contemporâneo Brasília?


Léo: O desenho da poltrona ´Temes´ nasceu da fusão de dois ícones do design moderno: A cadeira de Joaquim Tenreiro  projetada nos anos 40-50 e a ´La Chaise´ de Charles and Ray Eames, feita em 1948. Foi um conceito que inventamos em 2003 e chamamos de Design-fusão. Mas o primeiro produto deste conceito só foi realizado em 2008 – a poltrona Pantosh. Desde então várias peças desta série (que apelidamos de série Vira-latas) foram lançadas, entre ela a Temes. (além disso, várias cópias desse conceito surgiram no Brasil e no mundo – mas ele é originalmente nosso!)

Com esse conceito buscávamos fazer referências à cultura brasileira... falar de Miscigenação, sincretismo, antropofagia cultural e “viralatismo” através do desenho de móveis. (esse foi um trabalho que foi definido pela jornalista carioca Suzete Aché como “Antropofagia Carioca”, que acabamos adotando como título para uma série de palestras).

Além da ideia de fusão, a Temes carrega um diálogo com temporalidades distintas. O exercício de reinterpretações de traços de tempos passados para atingir um resultado formal tipicamente contemporâneo, sempre esteve ativo no processo de criação. Esse “modus operandi” caracteriza uma das nossas linhas de pensamento: O diálogo (ou ligação) entre linguagens formais de épocas distintas. (Aliás, temos horror à palavra ‘atemporal’, que vem sendo muito mal empregada em nosso meio).



Poltrona Temes, fusão entre cadeira Vareta, do designer Joaquim Tenreiro + a La Chaise, de Charles Eames

Veem como uma tendência o elemento natural na criação e nas formas das suas peças?

Como é o processo de escolha do material que vai compor um móvel?

 

 

Léo: cada vez mais temos nos aproximado da natureza em nossos projetos – inclusive a palavra ‘Natural’ define uma das linhas de pensamento colocadas em nosso livro (lançado pela editora Olhares) nos diagramas de Taxonomia que fazem uma análise de todo o nosso trabalho ao longo de mais de 10 anos. Esta é uma linha que dialoga com o conceito de biomimética e que transforma em móveis formas da natureza como gotas, folhas, conchas, pedras de rio, frutas… isso tem sido cada vez mais frequente para nós.

 

 

No desenvolvimento da Mesa Renda, em parceria com a Lider Interiores, qual os pontos principais a serem observados? O desenho da peça, acreditam que passa a ser uma co-criação ou tem total autonomia para criar?

 

Léo : Recebemos briefings da Lider sim, mas eles nos dão total autonomia e liberdade para criar. Em casos assim, o que mais nos preocupamos é imprimir simultaneamente nosso DNA e o do nosso cliente (no caso a Lider) no nosso móvel.

 

Nó projeto da Renda buscávamos trazer muita leveza para uma base cujas proporções requerem inevitavelmente dimensões mais robustas. Desta maneira, os requisitos estruturais foram usados como importantes aliados formais. Para sugerir leveza, a base da mesa toca sutilmente o chão, sem demonstrar estar suportando o enorme peso de um tampo dessas proporções. Suas peças entrecruzadas estruturam o conjunto sem pesar visualmente, lembrando uma trama ou renda – uma composição formal que acabou por lhe sugerir o próprio nome – Mesa Renda.

Poltrona Temes
Mesa Renda, design Lattoog para Lider Interiores